Sonho de voar

Algumas feridas demoram a cicatrizar. Não há dúvidas.
Mas...
Ela foi aprendendo,
com as tantas quedas,
que o remédio é
nunca parar.
Seguindo, dia após dia,
ela voltaria a acreditar que um dia

   v                                     a.
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Sobre as recentes manifestações políticas

Ir às ruas e gritar: "Fora temer!", ou "A verdade é dura: a rede globo apoiou a ditadura (e ainda apoia)", ou ainda "Sessenta e quatro nunca mais", não é mais do que dizer: "tenho consciência política e desejo lutar por um país verdadeiramente democrático e menos injusto!" Sei que somos ainda poucos. Sei que somos uma pequena "elite" intelectual. Olhar ao meu redor era como olhar para aquela minoria que chega às universidades ou que teve a alegria de ser educada por professores conscientes. Por isso, digo que vou às ruas por aqueles que não o fazem. Por aqueles que tiveram negados os seus direitos de, pelo menos, poderem escolher se queriam ou não ir para as ruas. Vou às ruas pelos que não têm consciência do quanto são explorados e usados pela máquina da corrupção. Pelos marginalizados. Pelos que não possuem voz. Vou às ruas e, ao gritar todas essas coisas, penso nas "minhas" crianças que não tem o que comer em casa e nem um lar para serem amadas. Nos tantos jovens sem oportunidade que tornam-se dependentes químicos, "bandidos", assassinos. Penso nos trabalhadores que recebem salário mínimo que não dá pra pagar nem os remédios e os alugueis, quanto mais a comida, o lazer, a educação. Penso naqueles que vivem para o trabalho, dedicando sua saúde e tempo para "servir" a uma classe que só deseja manter-se no poder, subjugando-os. Vou às ruas porque acredito que assim se forma um povo! Assim fazemos história: sendo protagonistas da mudança que desejamos ver no mundo! Sonho com uma sociedade em que todos possam ter o verdadeiro direito à educação respeitado e, assim, sejam capazes e livres para escolherem lutar ou não. 

Peso nos ombros

Carrego o que pesa em muitos. Carrego seus podres pesos sobre meus tão jovens-envelhecidos ombros. Carrego seus olhares repletos de sangue e dor, mas também julgador. Carrego o peso da culpa de não ter cometido nada tão grave do que eu possa me confessar. Carrego o peso de dois mil anos e, também, o de alguns meses. Meus olhos pesam pela opressão do sorriso que me negaram, do carinho que não recebi, da ternura que se desviou de mim. Não desejei isso. Apenas aceitei, resignadamente, amável e sorrindo, que suas culpas fossem as minhas e, com isso, não me permiti errar.
Liberdade, Liberdade! Vem encontrar-me depressa!

Dilema

Meu coração tem vontades que minha mente desconhece e não suportaria conhecer.
Minha mente tem consciência que muitas das suas vontades matarão meu coração.

ODE À FIDELIDADE

Canto louvores a Ela. 

Preciosa arma contra a rotina,

o tempo, 

o cansaço.

Tesouro inestimável dos amantes.

Loucura para os poetas e artistas

mas também ansiada por estes que

muitas vezes
jamais conseguem possuí-la.

Ousaria dizer que
nela
há pouco de humano.

Existindo muito do inexplicável.

Sagrado, até.

Dizer não a todo o mundo para

Afirmar um verdadeiro e inteiro sim

É escolher a morte, muitas vezes. 

Uma morte que

sem dúvida

toca o Sagrado e

possibilita a Ressurreição.

Principalmente porque o sim precisar ser

a cada dia

Fecundo

Intenso

Esperado

Livre

para que o amor seja 

Apaixonado, sem

Medo

Otimista e

Renovado.

Em tempos de fugacidade,

Inconstâncias
Do descartável e

Passageiro

Canto um grande louvor e
reverencio àquela que sempre é
Presente, 

Constante, 

Eterna.

Amá-la e servi-la 

é experimentar uma face da
Liberdade.

Ó Fidelidade, minha amiga, 

Encha-me com tua

Paz, 

e seu prazer transcendente.

A Rosa (num outro dia)

Suas pétalas quase todas ao chão. Preso ao pedúnculo, apenas o receptáculo de uma nova vida. As sépalas antigas acolhem ainda um vestígio daquelas tão amadas pétalas. Mesmo diante da dor em vê-la deixar-me, alimento-me da esperança de que, em breve, ressuscitará e me trará nova alegria.

ROSA

Da janela, observo-a cheia de encantamento.

Suas pétalas tão vermelhas

 pedem que eu me aproxime mais.

Durante um longo tempo vou,

inspiro seus aromas,

escuto atentamente sua vida

e volto, sempre mais enamorada.

Mas com o passar das semanas,

e quanto mais me aproximo,

percebo que meu desejo é possuí-la.

Possuí-la é arrancá-la.

E arrancá-la é matá-la.

Matá-la é matar-me a mim mesma.

Pois sua seiva me alimenta,

suas cores me inspiram,

sua resistência me motiva,

sua fragilidade e força me intrigam.

Sua vida me dá vida.

Por isso, hoje, nesse não tão longo caminho entre a sala e a rosa,

calculo e decido firmemente que,

a melhor maneira de possuí-la é deixá-la

e, de longe, amá-la.

Em silêncio ou

Dizendo apenas poucas palavras.

Mas alegrando-me

tanto com sua beleza

quanto com a admiração que causa em muitos.

Ela é de todos!

Eu não digo a ninguém,

mas lá no fundo,

ela será sempre a minha rosa.